Vera Pinheiro
O tempo parece um cavalo em desabalada carreira. Mal a gente consegue ver que ele está ali e já passou! Já era! Já foi! Pois bem. O tempo passou célere e este blog ficou no abandono! Na realidade, eu fiquei “do lado de dentro” por alguns meses, na minha toca interior. Não saí de mim, não vi pessoas e, portanto, não observei a vida pulsando nas ruas, tampouco a expressão das pessoas por meio daquilo que elas vestem.
Eu mesma não me expressei durante bom tempo. Não escrevi, não me vesti, apenas cobri o corpo para não deixá-lo à mostra. Fiz isso sem a delícia da escolha, o prazer de se enfeitar que é tão peculiar à mulher. Que eu me lembre, isso aconteceu apenas (deixem-me ver...) nas eleições de 2002, quando fiquei tão envolvida pelo trabalho por meses que, ao voltar, parecia estar saindo de uma longa expedição à selva. É o que ocorre agora. Estou saindo de uma expedição feita ao meu interior. Sã e salva, que bom. Um pouco mais sábia, apesar de algumas escoriações na alma.
As mudanças têm tudo a ver com o visual. Escureci meus cabelos. Cansei de ser louuuura. Deixei as unhas crescerem, pois estou com as garras estendidas para me defender. E há dias em que quero andar desnuda; de outros, completamente coberta. Há dias em que me mostro; em outros me escondo. E há dias de vestir cinza, preto, marrom. Um luto interior ou um recolhimento. E há dias em que sou um passeio entre o verde, o azul claro, o índigo e o vermelho, sem desprezar o amarelo, o laranja e o violeta. São nesses dias que o arco-íris brilha em mim com todas as cores e com todas as possibilidades.
Não importa a cor que eu vista, tampouco o modelo da roupa. É a expressão do meu ser que deixo aos olhos de quem cruza por mim. Há quem vire a esquina antes de passar por mim e há quem não me veja. Não tem importância. Deixei de valorizar quem me despreza ou me ignora para ficar feliz com quem me aprecia.